Por Junior Almeida
Faleceu ontem pela manhã, de infecção generalizada e falência múltipla dos órgãos, no Hospital Hapivida, em Recife, a senhora Eurídice Pereira da Rocha, de 94 anos. Dona Nega, como era conhecida, viúva de Antônio Pretinho, da Fazenda Roçadinho, em Capoeiras.
Seu corpo está sendo velado no velório da Funerária Padre Cícero, na Avenida Simôa Gomes, em Garanhuns, de onde sairá o féretro às 10 horas de hoje para o Cemitério São Miguel. Dona Nega deixa seis filhos, Flávio, Fábio, Naldo, Ferrúcio, Fátima e Francinete, mais 26 netos e 23 bisnetos.
Fato curioso sobre a vida de Dona Nega, é que ela, ainda criança, morando na então vila de Serrinha do Catimbau, hoje, município de Paranatama, teve seu pai, Floro Duda, sequestrado por Lampião e seus cabras, em julho de 1935. A menina quando ouviu o tiroteio na principal rua do lugarejo, correu para frente de sua casa, vizinha a igreja da localidade, pensando em se tratar de fogos de artifício, para desespero de sua mãe Maria Pereira.
Mais de oito décadas depois desse episódio, as lembranças continuavam vivas na “menina” que quis ver o que ela pensava serem fogos. Dona Nega gravou um depoimento contando o que viu naquele 20 de julho, para que uma de suas noras, a professora e poetiza de mão cheia, Lindací Araújo, fizesse um cordel em homenagem aos seus 90 anos de vida, comemorado por ela e seus familiares na capital pernambucana. Dizia parte da poesia:
...Lampião naquela época
Vivia fazendo o mal
E cismou que visitaria
Serrinha do Catimbau
Mandou avisar as famílias ricas
Que viviam no local
Queria dinheiro e coisas,
Que ricos podia lhe dar
Entrou em Serrinha armado
Pra com Chiquito encontrar,
O seu pai Fuloro Duda
Correu para os amigos avisar...
Em outra parte dos seus versos, a poetisa disse assim:
Dona Nega era pequena
Conheceu o Lampião
Cara a cara com o rei
Pensou que fosse o cão
Com nove anos de idade
Não teve medo dele não...
E continua:
Do outro lado da rua
Tinha um homem de coragem
Espreitando a Lampião
Preparando a miragem
Atirou no dito cujo
Com a maior velocidade
O tiro não acertou
Ele atirou de novo
Acertou Maria Bonita
Lampião viu o estouro
Ela gritou: tô ferida
E mataram o cachorro
Dessa hora por diante
Começou a confusão
Era tanto tiro e bala
Que parecia São João
Dona Nega tudo olhava
Com muita admiração...
*Foto: Dona Nega na juventude e já mais madura.
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