quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

FALECEU EM RECIFE DONA NEGA, DE CAPOEIRAS


 

Por Junior Almeida

 

Faleceu ontem pela manhã, de infecção generalizada e falência múltipla  dos órgãos, no Hospital Hapivida, em Recife, a senhora Eurídice Pereira da Rocha, de 94 anos. Dona Nega, como era conhecida, viúva de Antônio Pretinho, da Fazenda Roçadinho, em Capoeiras.

 

Seu corpo está sendo velado no velório da Funerária Padre Cícero, na Avenida Simôa Gomes, em Garanhuns, de onde sairá o féretro às 10 horas de hoje para o Cemitério São Miguel. Dona Nega deixa seis filhos, Flávio, Fábio, Naldo, Ferrúcio, Fátima e Francinete, mais 26 netos e 23 bisnetos.

 

Fato curioso sobre a vida de Dona Nega, é que ela, ainda criança, morando na então vila de Serrinha do Catimbau, hoje, município de Paranatama, teve seu pai, Floro Duda, sequestrado por Lampião e seus cabras, em julho de 1935. A menina quando ouviu o tiroteio na principal rua do lugarejo, correu para frente de sua casa, vizinha a igreja da localidade, pensando em se tratar de fogos de artifício, para desespero de sua mãe Maria Pereira.

 

Mais de oito décadas depois desse episódio, as lembranças continuavam vivas na “menina” que quis ver o que ela pensava serem fogos. Dona Nega gravou um depoimento contando o que viu naquele 20 de julho, para que uma de suas noras, a professora e poetiza de mão cheia, Lindací Araújo, fizesse um cordel em homenagem aos seus 90 anos de vida, comemorado por ela e seus familiares na capital pernambucana. Dizia parte da poesia:

 

...Lampião naquela época

       Vivia fazendo o mal

       E cismou que visitaria

       Serrinha do Catimbau

       Mandou avisar as famílias ricas

       Que viviam no local

 

       Queria dinheiro e coisas,

       Que ricos podia lhe dar

       Entrou em Serrinha armado

       Pra com Chiquito encontrar,

       O seu pai Fuloro Duda

       Correu para os amigos avisar...

 

Em outra parte dos seus versos, a poetisa disse assim:

 

Dona Nega era pequena

       Conheceu o Lampião

       Cara a cara com o rei

       Pensou que fosse o cão

       Com nove anos de idade

       Não teve medo dele não...

 

E continua:

 

Do outro lado da rua

       Tinha um homem de coragem

       Espreitando a Lampião

       Preparando a miragem

       Atirou no dito cujo

       Com a maior velocidade

 

       O tiro não acertou

       Ele atirou de novo

       Acertou Maria Bonita

       Lampião viu o estouro

       Ela gritou: tô ferida

       E mataram o cachorro

 

       Dessa hora por diante

       Começou a confusão

       Era tanto tiro e bala

       Que parecia São João

       Dona Nega tudo olhava

       Com muita admiração...

 

*Foto: Dona Nega na juventude e já mais madura.

 

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