Por Junior Almeida
O ano era 1964 e o Brasil acabara de sofrer um golpe militar, que mergulharia o
país em vinte anos de trevas, onde direitos individuais e coletivos seriam
tirados das pessoas, em que os discordantes do sistema seriam perseguidos,
presos, torturados e muitos morreriam. Capoeiras, assim como em todo país,
existiam alguns ufanistas, que iludidos pela força da propaganda, achavam que
estavam vivendo uma revolução. Ledo engano. Tanto naquele tempo como mais
recentemente, em 2016, o mentor do golpe foi o todo poderoso Estados Unidos, país
bem acostumado a derrubar governos mundo afora.
A
diferença de 1964 para os dias recentes, é que enquanto o primeiro foi usado a
força militar, o golpe atual se utilizou de políticos desonestos e de uma mídia
vil, entreguista e perversa para colocar no poder quem perdeu nas urnas, no
demais a cantilena foi para golpear a democracia foi a mesma: denúncias de
corrupção, sendo muitas delas caluniosas, propaganda de amor ao país, com a
exposição exagerada do verde e amarelo e várias promessas vazias, como se a
retirada de um governo resolvesses os problemas do país por mágica.
Era
nesse cenário que o comerciante Euclides Almeida nessa época se dividia entre
duas residências e duas casas de comércio, em Garanhuns e Capoeiras. Junto com
sua esposa Maria das Neves, cuidava das mercearias, das casas e dos filhos, que
eram três: Eduardo, Aurélio e Roberto. O caçula do casal tinha feito 7 anos no
dia de São José, portanto, ainda vivendo em um país democrático. Seu melhor
amigo, Aroldo Andrade, tinha feito 7 anos em setembro do mesmo ano. Os dois não
se desgrudavam, e por isso, combinaram de ir ao cinema em Garanhuns, pois os
mais velhos do comerciante sempre que podiam estavam vendo filmes. Vejam mesmo:
dois moleques de 7 anos combinando de sair.
Aroldo
combinou com Roberto de ir à sua casa em Garanhuns, e de lá irem ao cinema,
isso tudo sem dizer aos seus pais, Gildo Marques e Maria Alice. Convidou outro
amigo, com pouco juízo, assim como ele, e seguiram para a Suíça Pernambucana.
Detalhe: a pé.
No
trecho da estada conhecido como “Belamento”, já próximo à Garanhuns, o
comerciante Heronides Borrego, compadre de Euclides, ia passando de carro,
quando reconheceu Aroldo.
É o
menino de Gildo! Disse Heronides, parando o carro em seguida.
Heronides
prudentemente recolheu as duas crianças. O colega de Aroldo, que era
maiorzinho, e o comerciante deixou na casa dos seus parentes no bairro do
Magano, e Aroldo foi levado para a casa de Euclides.
Ao se
encontrarem os dois amigos se abraçaram e Aroldo soube que os irmãos mais
velhos de Roberto já tinham ido para o cinema, então perguntou:
Bebeto,
eles foram pro cinema “diocesano”?
Não
Aroldo, eles foram pro cinema “jardim da infância”. Respondeu Roberto.
*Foto do antigo Cinema Jardim, em
Garanhuns. Atualmente funciona a Casas Bahia.
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