Por José Bezerra*
Hoje,
21 de abril, é feriado. De quê? Tiradentes? E o que Tiradentes significa para a
História do Brasil? Quase nada. Tiradentes foi guindado a herói da
independência quando foi proclamada a república porque não encontraram um nome
para ocupar o seu lugar.
Ele
era o mais obscuro entre os envolvidos na Inconfidência Mineira, mas foi o
único a receber a pena de morte porque era pobre e de pouca instrução e
meteu-se em conciliábulo de jovens filhos de ricos insatisfeitos contra os
altos impostos incidentes sobre mineração. Tiradentes, que não lucrava nada com
a extração do ouro, era um passarinho no meio de morcegos. Foi enforcado. Os
outros foram perdoados ou simplesmente expulsos do Brasil.
Tiradentes
foi uma figura desconhecida durante todo o período colonial e também durante o
império. Quando foi proclamada a república, procurou-se um nome que
simbolizasse o ideal republicano de forma convincente. Não se lembram de
ninguém que preenchesse esse requisito, então construíram o mito de Tiradentes.
Sua imagem passou a ser retratada de forma parecida com a de Cristo, para dotar
sua figura de uma aura de mártir e herói.
Ninguém
se lembrou que havia, sim, um brasileiro que de fato simbolizara o ideal
republicano e que perdeu a vida por esse ideal, que teve participação efetiva
em prol da Liberdade e da República – Frei Caneca! Este, sim, um MÁRTIR com
todas as letras maiúsculas!
O
problema é que Frei Caneca era nordestino, e a História do Brasil é contada a
partir da perspectiva dos que vivem no Rio, São Paulo e Minas.
Frei
Caneca participou da Revolução Pernambucana de 1817 e foi líder e mártir da
Confederação do Equador (1824). Homem de caráter inabalável, que se impunha não
pelas armas – que não usava – mas por suas ideias e por sua força moral, Frei
Caneca sacrificou a própria vida na defesa intransigente da república e da
libertação do Brasil do domínio português.
A
historiografia oficial pôs seus holofotes sobre a Inconfidência Mineira,
enfatizando exageradamente a sua importância. A Inconfidência Mineira não foi
nada em comparação com a Revolução Pernambucana de 1817. O que houve em Minas
Gerais não passou de uma conspiração inocente de intelectuais platônicos que se
reuniam em saraus literários.
Nós,
nordestinos, precisamos conhecer a história da nossa terra. Costumo dizer que a
melhor forma demonstrarmos amor à nossa terra é estudando a sua geografia e a
sua história.
A
Revolução Pernambucana de 1817 e a Confederação do Equador, com destaque para a
figura heroica de Frei Caneca, são descritas em detalhes, dia a dia, mês a mês,
no meu “Capítulos da História do Nordeste”.
*José Bezerra de Lima Irmão é de Alagadiço,
município de Frei Paulo, Sergipe, e reside em Salvador. É auditor fiscal do
Estado da Bahia, membro correspondente da Academia Gloriense de Letras, membro
da Academia Literária do Amplo Sertão e membro fundador da ABLAC – Academia Brasileira
de Letras e Artes do Canganço. É autor do clássico “Lampião a Raposa das Caatingas”,
com 736 páginas, “Fatos Assombrosos da Recente História do Nordeste”, de 332 páginas,
e “Capítulos da História do Nordeste – Fatos que a História Oficial não Conta ou
Conta Pela Metade”, de 753 páginas.