Por Junior Almeida
Faleceu
de infarto na manhã desta terça-feira, 15 de junho, em sua residência, e,
Capoeiras, Dona Marina Maria, de 96 anos de idade. O velório acontecerá no salão da Funerária São Francisco de Assis
(de Aílton Rodrigues), Rua Senador Paulo Guerra, em Capoeiras, de onde sairá o
féretro às 9 horas da manhã da quarta-feira
16, para o cemitério de Caetés.
Em
dezembro passado, publicamos em redes sociais um texto sobre Dona Marina, em homenagem ao seu aniversário de 96 anos, o qual postamos abaixo:
Marina Maria de Jesus é
a mais velha dos 16 filhos que teve o casal João Maurício e Júlia Cordulina,
sendo oito homens e oito mulheres. Nasceu no Sítio Baixa do Pau Ferro, no atual
município de Capoeiras, à época São Bento do Una, em 2 de dezembro de 1924, uma
terça-feira dia de Santa Bibiana e São Silvério, o 58º Papa da Igreja de Roma.
O Brasil naquele ano era governado pelo carioca Artur Bernardes e, o Estado de
Pernambuco, por Sérgio Loreto. No terceiro distrito de São Bento, quem dava as
cartas na política local, era a Família Borrego, através do seu nome maior, o
comerciante e fazendeiro João Alves de Siqueira.
Dona
Marina casou-se em 2 de fevereiro de 1942, com pouco mais de dezessete anos,
com Manoel Augusto dos Santos, o Quezinho, e manteve a tradição das famílias
daquele tempo, tendo também uma boa quantidade de filhos: quatorze que se
criaram, fora quatro que não vingaram. Depois de casada, Marina foi morar com o
marido em Garanhuns, no Sítio Várzea do Tatu, divisa com Várzea Comprida, duas
localidades que hoje fazem parte do emancipado (desde 1963) município de
Caetés. Naquelas paragens havia uma boa vizinhança, dentre eles o casal
Aristides Inácio e Eurídice Ferreira, a Lindú, que naquele início de década
lhes tomaram como padrinhos de um de seus rebentos, o menino Genival, chamado
por todos de “Vavá”.
No
final de 1952, a comadre de Marina e Quezinho resolveu que era hora de arribar
pras bandas do sul. Lindú iria embora para Santos, São Paulo, se juntar ao
marido Aristides, que tinha ido, anos antes, pro “sudeste maravilha” tentar a
vida, mas para isso, precisava vender tudo que tinha, o que se resumia ao seu
pequeno sítio, na Várzea Comprida. O negócio foi feito com o compadre Quezinho,
que pagou 9 mil cruzeiros no momento da compra, ficando 4 mil para quitar em
até um ano, o que aconteceu quando Lindú voltou a Caetés no prazo acertado.
Dona Marina recorda hoje (2020), que quando a comadre recebeu o que lhe era
devido, chorou, não sabendo, no entanto, se de felicidade, de saudades do
torrão natal, ou mesmo por se desfazer de sua propriedade. A saída da família
foi no mês de dezembro, em frente à bodega de Tozinho, na mesma localidade em
que moravam, onde o Zé de Né estacionou seu caminhão pau de arara para levar o
povo para São Paulo. Na bagagem da retirante, além dos picuás, muita esperança
de dias melhores em terras estranhas e uma ruma de filhos, dentre eles Vavá,
afilhado de Quezinho e Marina, e o mais novo, Luiz de Lindú ou Lula.
Pois
bem. O menino Lula viria depois ser um combatente sindicalista e político,
chegando à Presidência do Brasil por duas vezes, o que encheu de orgulho não só
a família, mas todo povo da região, inclusive vizinhos de outrora da Várzea
Comprida, dentre eles Quezinho e Marina. Essa história é bem conhecida mundo
afora, pois, não era difícil nos tempos do governo Lula, que jornalistas de
todo país e até estrangeiros fossem à localidade para ver onde o presidente
tinha nascido e conversar com as pessoas. Parentes e antigos vizinhos de Lula se
transformaram, de uma hora pra outra, em celebridades.
Em
março de 2003, por exemplo, Vavá veio ao interior de Pernambuco, visitar amigos
e parentes. Nas ruas de Caetés, em dia de feira, acompanhado por autoridades
locais, sempre que andava, tinha um ou outro querendo tirar uma foto com ele,
ou mesmo cumprimentar o mano do então presidente. Os mais desavisados e finos
devem ter estranhado quando Vavá, irmão do mandatário do país, tomou uma dose
de temperada e comeu um pedaço de passarinha numa tolda de vender comida na
feira. De Caetés Vavá resolveu ir para Garanhuns, visitar seu padrinho
Quezinho, que soubera estar doente, internado no Hospital Dom Moura. Assim fez,
porém, na portaria da unidade de saúde foi barrado, pois já tinha se passado o
horário de visitas. Ele ainda argumentou, “que morava em São Paulo e estava a
passeio em sua terra natal, e queria ver o padrinho, nem que fosse só para
pedir-lhe a benção”. Nada! O funcionário da portaria, importante como o que,
cumpria ordens e estava irredutível e, foi aí que alguém que acompanhava Vavá
disse algo, uma espécie de carteirada:
-Ele
é irmão de Lula!
-Que
Lula? Quis saber o rapaz da portaria.
Depois
das explicações e identificações, a coisa mudou de figura. As portas se
abriram. O funcionário de olhos arregalados interfonou para seus superiores e o
próprio diretor do hospital veio ciceronear Vavá e os seus. Dias depois “Seu”
Quezinho veio a falecer, mas não por falta de cuidados, pois teve tratamento
que nem todo hospital particular proporciona.
Outro
caso curioso, teve como protagonista justamente Dona Marina, a madrinha de
Vavá. Em 2 de setembro de 2018, o então candidato a presidente do Brasil,
Fernando Haddad, foi à Várzea Comprida gravar seu programa de TV, que seria
usado eu sua campanha, e quando soube que a madrinha do irmão do amigo Lula
estava por lá, na casa de um filho, quis a conhecer. O momento do encontro foi
registrado pelo fotógrafo Ricardo Stuckert e a imagem correu o mundo. Nela se
via Haddad e Dona Marina, testa com testa, traduzindo admiração, carinho e
respeito mútuo. A fotografia fez escola, logo, seus netos trataram de imitar o
famoso profissional das melhores imagens de Lula, tirando fotos com a avó, da
mesma maneira que o candidato à presidência tirou. Foi uma festa de bom humor
na família, uma brincadeira sadia entre os netos e a avó, agora famosa pelo
clique de Stuckert.
Pegando
gosto pela nova brincadeira, aproveitando os recursos dos novos celulares que
filmam e fotografam, para depois publicar nas redes sociais, seus netos e
netas, muitas delas profissionais em educação, resolveram explorar (no bom
sentido) a quase centenária avó. Passaram a filmar e publicar suas
reminiscências. Sempre que podem, elas postam filmagens com narrativas
maravilhosas de Dona Marina. Algumas tristes, como uma em que ela fala da
morte, por afogamento, de [Se] Bastiana, pobre campesina que morava numa “meia
água” da vizinhança, mas a maioria é leve, bem humorada, que dá gosto em
assistir, como um vídeo em que uma das netas dizia querer varrer a casa em
plena sexta-feira, um sacrilégio, na opinião da simpática senhora.
Em
um de seus vídeos mais recentes, os netos de Dona Marina levam a todos a
simples história, contada por ela mesma, de uns óculos velhos que possuía, mas
que para ela era bem especial, pois fora comprado no “santo” Juazeiro. Devota
fervorosa de Padre Cícero, assim como seus pais, que já tinham ido a Juazeiro
várias vezes a pé, sendo a primeira vez em 1915, Marina Maria tem em sua conta
a marca de 62 viagens à Meca Sertaneja. Para ela, como muitos devotos do Padim,
tudo da Terra da Mãe de Deus é santo. Pedras, areia, água, frutas, verduras,
refrigerantes, e, claro, os óculos, tudo é santificado pelo poder do Padre
Cícero.
Em
Capoeiras, distante do Juazeiro 430 quilômetros, um exame recente fez com que
as lentes dos óculos de Dona Marina tivessem de ser substituídas e,
aproveitando que ia trocar os vidros da peça, um parente resolveu também
substituir a armação por uma novinha em folha. Bom?! Para senhora de 96 anos,
não. Claro que não! O bom mesmo, para ela, eram os óculos comprados em
Juazeiro, em uma de suas muitas viagens, provavelmente num balaio de meio de
feira, aproximadamente três décadas atrás. Imaginem...
-Henhen!
Disse ela no vídeo, lamentando o sumiço do seu velho óculos.
-Foi
bem Izabel (uma neta) que carregou pra dar aos meninos.
E onde tem menino, já sabe... Conjecturava Dona Marina.
No
segundo dia de dezembro de 2020, Dona Marina completou 96 anos, estando firme,
forte e lúcida, e na medida do que a idade permite, bem saudável. Sete irmãos e
três irmãs dela já foram morar com Deus, ficando desses uma boa quantidade de
sobrinhos. Além de seus 14 filhos, a matriarca Marina Maria de Jesus tem vivos
82 netos, 139 bisnetos e 19 trinetos. Uma verdadeira benção para ela e todos os
seus descendentes, parentes e amigos.
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